Página 6-7 - janeiro_2016

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O INFORMATIVO
- Edição 224
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Entrevista
- Luiz Almeida Marins Filho
robusto. A crise tem um aspecto positivo,
pois em época de bonança você não
promove mudanças. Assim como a crise,
você também precisa peneirar aquilo que
é bom e o que não é, seja em gente, em
processo e outros quesitos.
A época de vacas magras pode ser
considerada também uma fase de
amadurecimento?
Não, é de separação mesmo. O Brasil
já sentia os efeitos de uma pré-crise, já
estava numa peneira, sentindo os efeitos
da concorrência. Agora em tempos de
economia bicuda a malha da peneira ficou
ainda mais fina e só passa quem é muito
bom.
Qual é a analogia que se pode
fazer entre a indústria nacional e a
internacional. É possível mensurar?
É muito diferente. O mundo é dividido
em dois blocos: mercados maduros e
mercados emergentes. Os Estados Unidos
por exemplo são um mercado maduro,
onde o mercado e o aumento do consumo
é igual ao consumo vegetativo. Nos
países de primeiro mundo, as empresas
têm ritmo completamente diferente. No
gráfico de vendas, a linha é plana, reta. Já o
Brasil apresenta um gráfico cheio de altos
e baixos, coisa que as multinacionais não
entendem. Para você ter uma noção, uma
palestra como esta, que vou apresentar,
eu preciso de elaborar um dia antes, afinal
tudo pode mudar de uma hora para outra.
Até o presidente da república.
As empresas brasileiras têm uma
visão de longo prazo?
As empresas americanas, europeias e
japonesas têm uma visão de longo prazo
que o Brasil infelizmente não tem. No
entanto, as empresas do primeiro mundo
têm uma contradição, pois eles precisam
dar resultado nas bolsas de valores a
cada três meses. Por isso no primeiro
mundo, as empresas dependem muito
das empresas dos países emergentes,
pois depende do comportamento destas
para saber como será o resultado deles,
lá.
Com base na sua palestra que fala da
mão de obra, hoje o país vive uma crise
de bons profissionais em determinados
segmentos. Como o senhor vê essa
situação e como revertê-la?
Há muitos anos fiz um curso nos
Estados Unidos com um renomado
professor, isso foi lá pelos anos 1970 a
1980. Já naquela época ele dizia que as
empresas teriam de assumir a educação
porque os governos não vão dar conta. Na
ocasião, já garantiam saúde e segurança
dos funcionários. 30, 40 anos se passaram
e estamos vendo isso. As empresas vão
ter de possuir escolas se quiserem reter
gente boa. Hoje as grandes empresas
já têm universidades corporativas. Eu
mesmo já criei várias.
Até que ponto isso é positivo?
Isso é extremamente rico, pois
retém mais pessoas e ainda aumenta
a empregabilidade do profissional. “As
outras empresas vão dizer o seguinte:
ah, você trabalhou naquela empresa.
Isso acaba gerando uma escola para os
concorrentes”. Por isso todos devem ter
em mente que todos deverão ser escola
para todos. O Brasil já está adotando
essa postura, hoje se você quiser ter
gente boa com você é preciso melhorar
o recrutamento, pois não temos o hábito
de achar gente boa. No primeiro mundo,
você vai atrás de gente boa, mesmo que
você não precise contratar. É preciso ter
um banco de gente.
Na sua opinião, o Brasil tem jeito?
Claro, o Brasil tem jeito, sim. O Brasil tem
vantagens estratégicas comparativas que
nenhum outro país do mundo tem. Todos
sabem disso. Nosso estoque genético é
riquíssimo, o que estimula a adaptação e a
tolerância. Nós somos a maior população
de italianos fora da Itália, alemães fora da
Alemanha... Hoje nós temos 11 milhões
de libaneses enquanto o Líbano tem 6
milhões. Aqui não há problemas étnicos
ou religiosos e isso ajuda bastante na
convivência pacífica.
O jeitinho brasileiro é nocivo. Como
você vê isso?
O famoso jeitinho brasileiro, em vez de
ser ruim ele acaba sendo bom. Ele acaba
funcionando como uma barreira contra
o fundamentalismo. Apesar do “melê”
que é o nosso governo, isso permite uma
governabilidade mais para a frente. Já a
Argentina não vai para frente porque não
tem diálogo. O sujeito nasce peronista e
morre peronista!
Mesmo com a atual situação, o mundo
continua de olho no Brasil?
Por quê que você acha que a General
Motors vai duplicar os investimentos
no Brasil e a Toyota vai triplicar seus
investimentos aqui, assim como a Honda
deve promover investimentos aqui?
No passado se falou muito da
agricultura do Brasil. Realmente temos
todo esse potencial que tanto se fala?
Segundo a Organização das Nações
Unidas, o Brasil é o único país que possui
condições que produzir alimento para
tratar do mundo. A África, por exemplo,
não tem terra e água no mesmo lugar.
Então já está descartada. O tamanho do
nosso território e o fato de termos apenas
um idioma também é bastante positivo,
nem possui problemas de fronteira.
...A GENERAL
MOTORS VAI
DUPLICAR SEUS
INVESTIMENTOS NO
BRASIL, A TOYOTA
VAI TRIPLICAR OS
INVESTIMENTOS.
O QUE SERÁ QUE
ELES ESTÃO VENDO
AQUI QUE NÃO
CONSEGUIMOS VER?
...A SITUAÇÃO NÃO
É CRÍTICA COMO
A DO PASSADO,
QUANDO A INFLAÇÃO
ERA DE 80%, MAS
NA ATUALIDADE A
SITUAÇÃO É NUBLADA
E MERECE CUIDADOS